Pequena história do coelho, do ovo e das tradições de Páscoa - uno Gitano™

Pequena história do coelho, do ovo e das tradições de Páscoa




Uma pequena história das tradições de Páscoa, que vem sendo celebrada há 1.684 anos.
Na Alemanha, pesquisas indicam que 20% da população desconhece as verdadeiras origens da festa.

Há séculos, famílias de diversas partes do mundo celebram a maior festa do Cristianismo de maneira parecida. No sábado, com a missa da Vigília Pascal seguida da queima simbólica do Judas e, no domingo, através da missa de Páscoa e da busca por ovos coloridos no jardim.

No entanto, já nem todo mundo sabe por que se celebra a Páscoa. Na Alemanha, pesquisas indicam que 20% das pessoas desconhecem as origens da festa. E a figura do coelho da Páscoa não exatamente ajuda, já que ele nada tem a ver com a ressurreição de Cristo. A culpa disso é justo dos protestantes, concluiu em diversos estudos o pesquisador de costumes Alois Döring, de Bonn.




O coelho

Um dos símbolos mais conhecidos desta época do ano, o coelho foi uma invenção protestante.
"Crianças católicas sabiam que na Páscoa poderiam voltar a comer ovos, que durante a Quaresma eram proibidos. Mas como explicar às crianças protestantes por que, de repente, havia tantos ovos na Páscoa?", explica Döring.

Foi por isso que os protestantes criaram as histórias do coelho que distribuía, de casa em casa, os ovos acumulados durante o período. Além disso, o coelho era um símbolo da fertilidade – o que aliás não explicava como o animal, na condição de mamífero, tinha tantos ovos.

Os protestantes não se preocuparam muito com a Biologia, mas, sim, com os costumes católicos como o de fazer os fiéis rirem durante as missas de Páscoa. Enquanto protestantes celebravam a ressurreição de Cristo no domingo de Páscoa com muita seriedade e silêncio, em muitas igrejas católicas procurava-se comemorá-la de forma festiva.

Durante o período barroco, era comum até que padres católicos contassem anedotas aos fiéis. E o púlpito, muitas vezes, era transformado em ateliê. "De muitos sermões, pode-se até tirar belas passagens sobre a pintura e a decoração de ovos de Páscoa, que nos séculos 17 e 18 eram comuns. Ou foram se tornando comuns", conta Döring.


O ovo

Ovos pintados: costume alemão
Contra os ovos em si, os protestantes não tinham nada. Eles sempre foram tidos como símbolo de vida nova e, assim sendo, da ressurreição de Jesus Cristo. A tradição de pintar, decorar e presentear os ovos já existia desde os primórdios do Cristianismo.

"Antigamente, era comum pintar os ovos apenas de vermelho, para simbolizar tanto a cor do sangue de Cristo quanto a do amor que ele nutria pela humanidade. Isso ainda é assim na Igreja Ortodoxa", conta Döring. "E a decoração servia para distinguir os ovos bentos dos não bentos durante a Páscoa."

Com o passar do tempo, diversos outros costumes foram criados em torno do ovo, como por exemplo, a brincadeira de escondê-los. Segundo Döring, estes continuarão existindo. Afinal de contas, já estão definidos os feriados de Páscoa para os próximos séculos. "O famoso matemático [Johann Friedrich Carl] Gauss desenvolveu uma fórmula para calcular a data da Páscoa nos próximos dois mil anos. Quem souber como usá-la, pode saber em que dia cairá a Páscoa no ano de 3575."

Mas muitos nem querem saber disso. O importante é que a Páscoa vem sendo celebrada há 1.684 anos no primeiro dia de lua cheia depois do início da primavera europeia, isto é, entre os dias 22 de março e 25 de abril. Ou seja, quando os coelhos voltam a saltitar pelos campos.


Na Alemanha

irmãos Grimm
Os alemães que cultivam a tradição colorem ovos cozidos, assam bolos especiais na Páscoa e fazem fogueiras em algumas regiões. A festa cristã se sobrepôs à que os germanos dedicavam à deusa da primavera.

A tradição cristã da Páscoa como a festa da ressurreição de Cristo, em que a morte não é vista como o fim e sim como o recomeço de uma nova vida, está ligada a elementos da mitologia germânica.
Segundo Jacob Grimm, um dos famosos irmãos Grimm, o próprio termo alemão, Ostern, deriva de Ostara, a deusa germânica da primavera.

Esta procissão a cavalo é tradição em Crostwitz, no leste da Alemanha, sendo cultivada há 450 anos pela minoria sórbia. Objetivo da cavalgada é proclamar a ressurreição de Cristo "A primeira das grandes festas germânicas da primavera, representando a vitória do sol aquecedor sobre as trevas e o frio do inverno, é Ostern. Ela somente foi equiparada à festa de ressurreição de Cristo pela Igreja na Idade Média", diz Grimm em seu livro sobre a mitologia germânica.



Como teria surgido o coelho da Páscoa por lá

O costume de se procurar os ovos de Páscoa no jardim também estaria baseado na crença dos germanos e de outros povos antigos de que o ovo é o símbolo da fertilidade e da nova vida em crescimento. Já o coelho, símbolo de fertilidade na mitologia grega, só é conhecido como "coelho da Páscoa" no norte da Alemanha há cerca de cem anos. No entanto, o coelho é o animal sagrado atribuído tanto a Afrodite, a deusa do amor dos romanos, como a Ostara.

Artista plástico Stefan Hempel coloca o braço em um de seus coelhos de madeira em seu ateliê em Stralsund. Os coelhos da Páscoa de 80 centímetros de altura são algumas das divertidas figuras que Hempel fabrica para a venda em galerias de todo o país

No sul, conhece-se há mais tempo a lenda dos ovos trazidos pelo coelho da Páscoa. Em suas pesquisas, o catedrático de Medicina de Heidelberg Georg Franck von Franckenau encontrou registros que documentam a lenda. Os mais antigos são de 1678. O hábito teria surgido, segundo Franckenau, há mais de 300 anos na Alsácia (França), no Palatinado e no Alto Reno (Alemanha).

Como os lépidos coelhos e lebres se multiplicam na primavera - a Páscoa cai na primavera no Hemisfério Norte - os padrinhos teriam inventado uma caçada ao coelho, na qual as crianças encontravam os ovos coloridos escondidos nos parques e jardins.


Ostereistedt, destino dos fãs do Coelho da Páscoa

Aqui mora o Coelho da Páscoa. Ostereistedt cultiva costumes simbólicos e festivos da Páscoa. É nesta cidade que se localiza o único correio pascal da Alemanha. Já o primeiro Museu de Coelhos da Páscoa fica em Munique.

A Páscoa – que ao lado do Natal é a mais importante festa religiosa do Cristianismo – está integrada à vida de um lugarejo do norte da Alemanha: Ostereistedt. Embora seu nome tenha provavelmente outra origem, ele soa como "cidade do ovo da Páscoa". E o povoado tira proveito da semelhança.

Localizado no estado da Baixa Saxônia, o lugar com cerca de 980 habitantes oferece uma programação especial para as crianças no domingo de Páscoa.

O dia começa cedo, com um passeio pelo parque do coelho Hanni Hase, seguido pela busca de ovos de chocolate, espalhados e bem escondidos no bosque. A festa continua com passeios de pônei e brincadeiras para as crianças.

O parque não funciona apenas na Páscoa. Está aberto diariamente para visitas, atraindo moradores da região e turistas de outras partes. As crianças se encantam.

Além disso, desde 1983, a equipe do Hanni Hase recebe e responde cartas de crianças do mundo inteiro nesta época do ano. Em 2006, o único correio alemão dedicado à Páscoa acumulou cerca de 31 mil cartas com pedidos ao coelhinho.

Segundo o "Coelho da Páscoa" e organizador do Hanni Hase, Hans-Herman Dunker, apesar de a maioria das crianças desejar ganhar ovos doces e coloridos, muitas pedem a paz no mundo.

A violência no mundo tem sido tema de várias cartas nos últimos meses, de acordo com Dunker.

"As crianças registram em suas cartas o desejo de interrupção da desgraça que os terroristas vêm causando nos últimos anos"

Entretanto, a tendência de pedir doces, especialmente ovos de chocolate, vem caindo. Na lista de desejos, destacam-se presentes que costumam ser solicitados no Natal, como bonecas, bicicletas, computadores e jogos de videogame.


Ovos para comer e para inglês ver

Antes dos ovos de chocolate envoltos em papel colorido, coloriam-se os ovos de galinha, cozidos, hábito cuja origem se perde no tempo e que se mantém vivo até hoje na Alemanha: no café da manhã do sábado ou do domingo de Páscoa não podem faltar ovos de várias cores, tingidos com anilina especial. Presenteá-los também faz parte da tradição.

Pintar ovos é costume nas escolas e entre as famílias. Também se costuma usar as mais variadas técnicas para pintar ovos. Estes, porém, são esvaziados antes da pintura e, dependendo da habilidade de quem os decora, transformam-se em verdadeiras obras de arte, com direito a exposições especiais na época da Páscoa.



Da culinária aos fogaréus

Osterzopf
A culinária alemã de Páscoa inclui a Osterzopf, uma decorativa rosca, na qual, depois de assada, podem ser colocados os ovos cozidos;

Osterlamm
o Osterlamm, literalmente o cordeiro da Páscoa, mas não se trata de cordeiro assado – tradição judaica – e sim de uma massa assada em fôrmas especiais, em forma de cordeiro; a Möhrencremesuppe, uma sopa com o legume preferido do coelhinho, a cenoura;



Osterbraten
e, por último, o Osterbraten, o assado de Páscoa, servido no domingo, que pode ser qualquer tipo de carne, não necessariamente cordeiro.




Outro costume cultivado em algumas partes do país é a fogueira da Páscoa, o Osterfeuer. O fogo tanto é o símbolo do sol, como da chama da fé, estando ainda ligado à purificação. Antigamente, a "limpeza de Páscoa" na Alemanha começava no pátio da igreja, onde os fiéis juntavam restos de madeira, galhos e as ramagens secas que sobravam do Domingo de Ramos. Isso para a grande fogueira, a ser acesa na noite de sábado para domingo.


Velas na Páscoa

Osterkerze
Nesse Osterfeuer, acende-se a Osterkerze, a vela da Páscoa, que é levada para a igreja, que está às escuras, em procissão. Na ocasião, os fiéis cantam três vezes a canção Lumen Christi, a luz de Cristo.

Na Vestfália e no norte de Hessen desenvolveu-se um costume local, de origem germânica e, portanto pagã: enormes rodas de carvalho, com 1,70 m de diâmetro e mais de 20 cm de espessura, desfilam pela cidade, transportadas em carros de feno. A seguir, são levadas para o alto de um monte. Às 21 horas do sábado, são incendiadas e rolam montanha abaixo.

Autoras: Sabine Damaschke, Stefanie Leipert e Neusa Soliz
DW









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