Filósofos da Antiguidade oferecem parâmetro ético para leitores de hoje - uno Gitano™

Filósofos da Antiguidade oferecem parâmetro ético para leitores de hoje


Platão e Aristóteles em quadro de Leonardo da Vinci

No centro da Escola de Atenas destaca-se Platão (427-347 a.C.), segurando sua obra Timaeus, e apontando sua mão direita para cima. Platão era o líder da Academia de Atenas, que congregava os maiores filósofos e matemáticos de seu tempo. Platão não era propriamente um matemático, muito embora seu nome esteja ligado aos chamados sólidos de Platão. Entretanto teve um papel importante na história da Matemática como inspirador e guia, e por ter contribuído para que a Matemática se tornasse parte essencial do currículo para a educação dos jovens. Seu discípulo Eudoxus de Cnido (408-355 a.C.) tornou-se o mais célebre matemático e astrônomo de seu tempo.

Também no centro da Escola de Atenas, ao lado esquerdo de Platão e portando sua obra Ética, está Aristóteles, seu discípulo, e que viveu até 322 a.C. Considerado mais um filósofo e um biólogo, estava entretanto a par do desenvolvimento da Matemática de seu tempo. Contribuiu com a Matemática através de seus estudos sobre os indivisíveis, o infinito e os paradoxos de Zeno. Também analisou o papel das definições e hipóteses na Matemática, inserindo-as no contexto mais geral da lógica, da qual é considerado fundador.


Platão, Aristóteles e Epicuro são alguns dos grandes nomes da Antiguidade clássica grega. Eles representam a base da cultura europeia. No entanto, a forma de apreensão de seus textos mudou através dos tempos.

O mundo é mais do que aparenta – disso os antigos gregos já sabiam, pelo menos desde que Platão concebeu o seu mito da caverna. O mito relata sobre um grupo de pessoas presas em uma caverna que, do mundo exterior, só percebem as sombras na parede. Segundo Platão, do mundo de fato nós também só percebemos as sombras. Para o filósofo grego, o mundo real é o mundo das ideias, acessível à humanidade somente através de imagens.



Exemplos da Antiguidade

Nosso acesso ao mundo é passível de expansão – da mesma forma que o ser humano também pode se expandir. Melhorá-lo, torná-lo um ser moralmente mais elevado também era a meta da filosofia de vida da Antiguidade. O "só sei que nada sei" de Sócrates tornou-se uma máxima e delineia a opção pela modéstia intelectual, expressada não somente por filósofos.

[...] as verdades de Sócrates eram postas à prova pela ação moral. A razão estabelecida em comum é uma razão prática. Como diz Wolff "De que serviria discutir a justiça se não fosse para se ser justo?" (1985, p.48). A ação moral individual é uma prova de que a pessoa atingiu a posse do conhecimento. Só quem o possui pode exercer a bondade, a justiça, a piedade. Aquele que sabe o que é o "bem" não pode deixar de o praticar. Assim só o ignorante pode ser mau. Quem pratica o que é mau fá-lo. No fim da vida, depois de condenado à morte, os seus amigos arquitetaram a sua fuga. Todos, incluindo os próprios juízes, a teriam aceito complacentemente. Mas Sócrates respondeu a Críton: "Os Atenienses condenaram-me legalmente, após um processo justo, por isso também é justo que eu seja fiel às suas leis e ao seu julgamento, não fugindo" (Wolff, 1985, p.25). Nunca saberemos o que esteve por trás destas palavras de Sócrates. Mas ao escolher morrer em vez de fugir de Atenas, Sócrates provou pela sua opção de escolha que a sua verdade podia ser posta à prova pela ação que tomou. Fugir implicava fazer uma ação injusta. Por sua vez esta ação implicaria falta de justiça que, no seu entender, implicava falta de conhecimento. Estas implicações recíprocas, ou de equivalência, não se harmonizavam, de forma nenhuma, com o que Sócrates tinha defendido durante toda a sua vida: não se pode ser justo sem se ter conhecimento e só o ignorante pode ser mau ou agir mal [...]


Sócrates ficou conhecido por sua coragem. Ao ser condenado à morte sob acusação de ateísmo, ele aceitou o veredicto diante do tribunal. Observou que ele estaria indo em rumo à morte e os juízes em direção à vida, acrescentando: "Mas ninguém sabe quem de nós vai tomar o melhor caminho, a não ser Deus". São cenas como essa que tocam a humanidade até hoje.

Pode ser que sejam cenas ideais, objetivos elevados e frequentemente grandes demais. Justamente por esse motivo, disse o filósofo Ludwig Curtius, eles assumem também o caráter de exemplo. "A ideia dos clássicos", explicou Curtius no início dos anos 1950, "é a personalidade humana formada de maneira completamente harmônica e saudável."



Abismo entre ideal e realidade

Em nossos dias, no entanto, os textos não são interpretados de forma tão literal, mas como parâmetros a serem discutidos. Os textos não podem ser lidos como nos aprouver, explica o filósofo da Universidade de Colônia Marcel van Ackeren.
É preciso levar em consideração o momento histórico, o contexto no qual aqueles filósofos escreveram. No entanto, isso é tarefa difícil para os leitores leigos de hoje.

Van Ackeren lembra que os autores da Antiguidade não podem replicar:

"Em seus escritos críticos, Platão diz que a escrita tem o problema de o autor não mais poder se defender."
Por esse motivo, é possível para um leitor projetar sua própria compreensão, suas próprias metas ideais ou filosóficas em tais textos que, em parte, são muito complicados e só existem em fragmentos.



Antes tudo era melhor...

Os textos da Antiguidade são sedutores por tratarem de ideais humanos. Em sua obra Fedro, Platão fala, por exemplo, da retórica filosófica que "faz tão feliz àquele que a possui". Diante de tais promessas, a realidade da maioria dos leitores deve parecer, obrigatoriamente, modesta.

Esse é o motivo pelo qual os textos éticos da Antiguidade Clássica são lidos desde então como literatura edificante e consoladora. Van Ackeren explica que as pessoas tendem a se refugiar nesses textos, por prezarem pouco as circunstâncias de vida de sua época – sobretudo aqueles que acham que o desenvolvimento cultural não progrediu corretamente. "Os ideais são tidos como perdidos – e então remetidos à Antiguidade", acresceu o filósofo.



Bases da identidade política da Europa

Os filósofos gregos prestaram contribuição fundamental à política. Até hoje, a identidade política europeia se baseia em seus ideais de equiparação de poder e de soberania do povo. O poder das pessoas de autodeterminar os princípios de sua convivência, independentemente do desejo divino: foi esse o pensamento radicalmente novo, explica Van Ackeren.

Os pensadores da Antiguidade Clássica grega argumentavam no mais alto nível ético.

É quase impossível manifestar literalmente tais ideais no mundo real. Dessa forma, eles são um desafio – diante do qual o fracasso é quase certo. Mas talvez seja justamente isso que mantém vivos os textos e os leitores.

Autor: Kersten Knipp (ca)
DW




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